Parto minha análise do materialismo. Rejeito todo idealismo que
vigora na “new-left”. Ou seja, minha análise consiste na realidade concreta e,
a partir dela, formular um programa (e não o contrário; idealizar um programa e
depois encaixá-lo na realidade concreta – postura dos socialistas utópicos, por
exemplo) ou pensar um modelo “nosso”, com nossa realidade.
Estamos vendo hoje o grau de insanidade e fascismo que
deriva de contingentes privilegiados enormes da sociedade por conta de um
“reformismo” imbecil que não fez um enfrentamento plausível no que deveria.
Ao contrário de que o senso comum diz, não foi Marx e
Engels que “elaboraram” o socialismo e comunismo. Eles falaram disso brevemente
no “Manifesto do Partido Comunista”, um panfleto revolucionário dedicado aos
trabalhadores explorados no pós-revolução Industrial. Quem se propôs a fazê-lo,
usando o ‘marxismo’ – o próprio Marx não gostava desse termo – foi Lenin. No máximo
o “velho barba” e seu eterno amigo Engels formularam um esboço no qual é algo tão atual e necessário.
Vivemos em tempos em que o véu das ideologias da sociedade
brasileira, que encobria as contradições entre política e economia, está sendo
desfeito e as conquistas da terceira via brasileira (ou seja; conciliadora sob domínio do neoliberalismo), iniciada em 2002, dão
sinais de esgotamento; como consequência, os mais numerosos grupos sociais
passam a lutar pela hegemonia em definir o que foi, o que é e o que será o Brasil.
Lênin
e o Estado:
Deste modo, acredito que se nós da esquerda e do campo
progressista tomarmos as reflexões de Lênin contidas em “O
Estado e a Revolução”, poderemos iniciar um debate válido sobre qual o papel
dos movimentos sociais em tempos de crise e quais os caminhos possíveis para a
conquista do poder no país. Assim, Lênin
afirma que o Estado nada mais é que um aparelho criado para oprimir uma classe
sobre a outra. Isto é, o aparato público é um instrumento criado pela burguesia
para ajudar na manutenção do seu poder de classe sobre os trabalhadores.
Portanto, é um poder baseado na violência, no uso dos exércitos e da polícia.
O autor recusa qualquer diálogo com reformistas, moderados e sociais-democratas,
a quem chama de “oportunistas” e “chauvinistas”, pois retardam a marcha da
história, ou seja, a revolução. Para
Lenin, estes grupos moderados ao fechar os olhos para a contradição de classe,
acabam fazendo o jogo do grande capital e suas políticas, são tão cheias de
contradições quando o capitalismo que fingem criticar.
Quanto à concepção do livro sobre o Estado, acredito que
pode ser um bom ponto de partida para refletirmos sobre formas coletivas de
governo, onde a participação direta dos cidadãos ocorra de maneira ilibada
e eficiente, substituindo a falida democracia representativa por um controle
mais democrático e mais condizente com as demandas sociais. ¹
O espantalho
sobre o “autoritarismo” leninista:
Imaginem o que a classe dominante (burgueses), os reformistas, os sociais-democratas, os “centristas”
fariam numa possível revolução cuja ela teria a “nossa cara”, nossos anseios
para suprirem nossas necessidades e prosperar com o mínimo de dignidade?
Se acham “bolsa família” comunismo ou ‘bolsa-vagabundo’,
imagina o que não fazem diante da socialização dos meios de produção? Pregar
diálogo com quem assassina, tortura e venera “salvadores da pátria”, se vende ao
imperialismo, sabota e destroi nossa sociedade, é desconsiderar a realidade
concreta. Não se emancipa ninguém nem se constroi alternativa libertária com a
nossa pátria esmagada pelo imperialismo e pela contrarrevolução.
Agora, afirmar que a União Soviética foi um mar de autoritarismo e alienação e
quem é adepto da sua defesa está usando meios que contrariam os fins é apagar a
própria história.
Sem o ‘autoritarismo’ soviético o voto feminino continuaria a ser excepcionalidade
marginal em meia dúzia de países pouco relevantes. O primeiro país de
relevância geopolítica a aprovar o voto feminino e, portanto, o sufrágio
universal de verdade, foi a União Soviética. Aí sim, só depois, entram EUA,
França, Inglaterra, etc. (que, estranhamente, não sofrem 1% das acusações de
autoritarismo por parte dos ‘democratas’.) Na década de 20, as mulheres soviéticas começaram a ocupar mais e
mais postos de trabalho nas indústrias e creches e restaurantes estatais se
encarregavam das tarefas antes consideradas domésticas. As novas condições
materiais somadas à facilidade para se casar e se divorciar e ao acesso ao
aborto permitiram o surgimento de novos arranjos familiares, baseados no amor
livre, e não na dependência econômica.
Então, graças à URSS, os direitos democráticos básicos de
50% da humanidade passaram a ter centralidade na geopolítica. Lembrando que
mesmo assim, até hoje há países totalmente atrasados nessas questões (devida
alta influência religiosa, exploração imperial, etc.). Além, claro, do
desenvolvimento tecnológico.
Em 1936, enquanto no berço da “democracia e da liberdade”, os EUA, negros eram
queimados vivos, espancados por turbas, etc. e sob a cobertura da lei, a URSS
tornava o racismo crime constitucional. A importância dos leninistas na luta
contra o racismo era tanta que nos anos 1960 era comum se ‘pejorativar’
qualquer estadunidense que lutasse pelos direitos dos negros como
“bolchevique”, por exemplo (até os reacionários reconhecem os méritos que a “new-left” ignora).
A emancipação dos povos colonizados na África e na Ásia, com a autodeterminação
dos povos passando a ser considerada como “direito básico”, também deve tributo
direto a Lenin e a Internacional Comunista.
Vale lembrar as palavras de Ho Chi Minh, líder da Revolução
Vietnamita, em “O caminho que me levou ao leninismo”:
“Um camarada me deu para ler a Tese sobre as questões nacionais e coloniais, de Lênin, publicadas pela L’Humanité.
Havia termos políticos difíceis de entender nessa tese. Mas, por meio do esforço de lê-la e relê-la, pude finalmente apreender a maior parte deles. Que emoção, entusiasmo, esclarecimento e confiança essa obra provocou em mim! Eu me regozijava em lágrimas. Embora estivesse sentado sozinho em meu quarto, eu gritei fortemente, como se me dirigisse a grandes multidões: Caros mártires compatriotas! É disso que precisamos, este é o caminho para nossa libertação! A partir dali, tive plena confiança em Lênin e na Terceira Internacional.”
É isso que o “autoritarismo leninista” representou não só
para o Vietnã, mas para diversos povos massacrados pelo imperialismo, de Cuba à
Angola, de Laos até Albânia, até a Coreia do Norte (embora a Coreia do Norte desconsidero que seja
“socialista”, porque lá é um governo e uma política socioeconômica muito
peculiar).
É isso que chamam de “autoritarismo”. O projeto responsável
por desencadear um processo de emancipação jamais visto em toda a história da
humanidade. Então, rejeito categoricamente a acusação de estar defendendo
“meios que contrariam os fins”. O que
contraria os “fins” é pregar a tolerância para com exploradores e assassinos do
povo e serviçais do imperialismo, tudo em nome da “boa política” e do
“desenvolvimento” que segrega pessoas, que invade países em “nome da
democracia” chamada Petróleo e que
financia golpes para conseguirem o
que querem!
"A verdade é sempre revolucionária."
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Stalin
e a ditadura:
Não sou “fã” de Josef, mas sei de seu legado, ainda sim,
ele fez muita besteira. Ele teve, junto à URSS, acertos e erros. De fato,
Stálin errou ao erradicar o “Código da Família” criado por Lênin. Deveria ter
feito uma revolução sexual ao invés de proibir o aborto, por exemplo.
Assim como a visão de socialismo num só país era
equivocada, Trotsky tinha um pouco de razão quanto a “revolução permanente”,
mas por outro lado me questiono como o Estado soviético iria esperar outras
revoluções acontecerem enquanto o mundo estava em perigo com a ascensão do
nazi-fascismo.
A “Nova Constituição de 36” da URSS, entre outras coisas ao
cidadão dedicava-se:
“Artigo
121 — O cidadão na URSS tem direito à educação.
Esse direito
é assegurado pela educação elementar compulsória, pela educação gratuita
incluindo a escola superior, por um sistema de estipêndio do Estado para a
maioria dos estudantes das escolas superiores, pela instrução ministrada nas
escolas em suas línguas nativas e pela instituição da educação gratuita,
industrial, técnica e agrícola em fábricas e fazendas do Estado, nos postos de
tratores e nas fazendas coletivas de indústria.
Artigo
122 — Às mulheres na URSS são concedidos direitos iguais ao homem, em todas as
esferas da economia e da vida do Estado, cultural, política e (...)
Artigo
123 — Direitos iguais para todos os cidadãos da URSS, independentemente de sua
nacionalidade ou raça, em todas as esferas do Estado, seja economicamente, na
vida cultural, social ou política, constituem lei irrevogável.
Artigo
124 — Com o fim de assegurar a liberdade de consciência, a Igreja, na URSS,
será separada do Estado e a Escola será separada da Igreja. As liberdades de
culto, assim como a liberdade de propaganda anti-religiosa, serão outorgadas a
todos.”
E, não, Stalin não foi “bonzinho” também. Stalin, ao ser
eleito “líder” do Partido com aprovação da ampla maioria em oposição às
propostas de Trotsky. Stalinismo não é nem nunca foi sinônimo de Revolução.
A ascensão do fascismo e sua retórica militarista e
anti-comunista aterrorizava cada um dos cidadãos soviéticos. Além disso, a luta
entre burocratas do partido e leninistas se tornava cada vez mais encarniçada.
O que seria esta facção política? É herdeira da burocracia do Império Russo,
eram sujeitos de mentalidade retrógrada que não tinham escrúpulos quando o
assunto é poder e riquezas. E hoje em dia, Vladimir Putin, um verdadeiro
herdeiro da burocracia soviética.
O legado maior de Stalin, sem dúvidas, foi na luta árdua
contra os nazi-fascistas e sabotadores de
seu governo e agentes da CIA articulando contra a URSS, onde a briga torna-se
mais feroz com o advento da nova Constituição Soviética. Stálin e seus
companheiros criaram uma Constituição que minava o poder dos burocratas,
apelando para eleições competitivas, secretas e diretas, além da completa
separação do Estado e do Partido. O Partido passaria a ter apenas a função de
propaganda, libertando assim, o Estado das mãos dos burocratas. Sim, isso com
um custo elevado: repressões e perseguições aos inimigos e conspiradores.
Entretanto, sob seu governo forte e centralizador, ao passo
que ocorreram muitos progressos graças
a Revolução de Outubro, entre elas a
que determinou que: “o salário das mulheres e dos homens seriam iguais quando
efetuassem o mesmo trabalho e na mesma quantidade”. Como diria Evelyne
Sullerot, “pela primeira vez uma nação proclamava o princípio de ‘para trabalho
igual, salário igual”. Um sonho distante para muitas mulheres do mundo
capitalista naquela oportunidade.
Alguns desse ‘conservadorismo social’ de Stálin foi: em
1934, pela primeira vez desde 1917, a homossexualidade foi criminalizada. Dois
anos depois, em 1936, uma nova lei sobre a proteção da mãe e da criança proibiu
a realização do aborto e passou a se exercer forte repressão sobre aqueles que
a praticavam.
Stálin afirmou no alto de sua autoridade de principal
dirigente do Estado Soviético: “O aborto que destroi a vida é inadmissível em
nosso país. A mulher soviética tem os mesmos direito que o homem, porém isso
não a exime do grande e nobre dever que a natureza lhe há designado: ser mãe da
vida” e alguns anos mais tarde, em 1950, um documento do PCF, numa linguagem
mais amena, procurou justificar tal medida: “A partir do 2º Plano Quinquenal, a
contínua elevação do nível de vida, o crescente bem-estar dos trabalhadores, as
multiplicações das maternidades, das creches, das escolas, tornaram caduca a
absurda prática do aborto”. Cinco anos depois, logo após a morte de Stálin, o
aborto voltou a ser permitido, mostrando que não era algo tão caduco e absurdo
assim.
“Ditadura
do proletariado”:
Se tem um termo ou associação negativa que a mídia
imperialista e reacionária gosta de fazer é o do “socialismo é ditatorial”. Ah,
vai ver a “democracia” burguesa é bem limpa, não é mesmo?
O jargão “ditadura
do proletariado” nada mais é do que um termo do séc XIX que, ‘mais atual’, significa suspensão das leis. E, em toda revolução, há essa suspensão das leis vigentes para que uma nova ordem seja instaurada.
Mas ao longo do tempo, com a maciça propaganda “anti-comunista”
(de um fantasma criado pelos ianques), juntamente com o daltonismo social da
sociedade, esse termo foi deturpado para que, assim, pudessem “legitimar” seus
crimes contra a humanidade – como guerras, etc.
A questão da “ditadura
proletária” é, sobretudo, a questão do conteúdo essencial da revolução
proletária. O seu movimento, a sua amplitude, as suas conquistas só tomam corpo
através da ditadura do proletariado. A ditadura do proletariado é o instrumento
da revolução trabalhadora, o seu órgão, o seu ponto de apoio mais importante,
criado com o fim, em primeiro lugar, de ‘esmagar’ (suprimir) a resistência dos
exploradores derrubados e consolidar as conquistas da revolução e, em segundo
lugar, de levar a termo a revolução proletária, levar a revolução até a vitória
completa do socialismo.
A ditadura do
proletariado surge não sobre a base da ordem burguesa, mas no processo da
sua demolição, depois da derrubada da burguesia, no curso da expropriação dos
latifundiários e dos capitalistas, no curso da socialização dos meios e dos
instrumentos essenciais de produção, no curso da revolução e emancipação da
classe trabalhadora. A ditadura do proletariado é um poder revolucionário que se apoia luta contra a burguesia.
Portanto, de forma resumida, é uma grande desonestidade e propaganda burra e demagoga,
considerar que seja “autoritário” esse jargão sociológico! É somente mais um
meio de alienação das massas
exploradas para confortá-las, em seu
sofrimento de viver nas mazelas da vida sem poder rebelar-se. Reduzir esse processo a um mero dizer que seja similar a uma ditadura militar ou algo do tipo, é totalmente desconhecer a ciência política e a Sociologia.
Conclusão:
Portanto, “ditadura do proletariado” é sinônimo de
democracia socialista. É dar voz e poder a quem irá fazer a História, a quem
vive na esperança (tendo ou não consciência disso) de um novo amanhã mais
próspero. Como uma vez escreveu o filósofo iluminista Rousseau:
“Uma sociedade só é democrática quando
ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que
tenha de se vender a alguém”
Para mim, Revolução Socialista é algo atual a ser
construído no dia a dia, em casa, na escola, na rua, etc., isso implica na luta contra a
ideologia capitalista e na construção de uma nova consciência. Hoje utilizamos
as armas da crítica, da intelectualidade, indo de encontro aos problemas.
Amanhã, cedo ou tarde, chegará a hora da crítica das armas. É nessa “crítica”
que veremos se estamos caminhando num rumo certo!
Somente isso ocorrerá se, em todos nós, houver uma só
intenção, uma só ideia, um só projeto:
A CONSTRUÇÃO DO
SOCIALISMO!
"A revolução começa em casa."
|
Referências bibliográficas e fontes:
1) http://www.trincheiras.com.br/2016/04/lenin-o-estado-e-a-revolucao/ ¹
1) http://www.trincheiras.com.br/2016/04/lenin-o-estado-e-a-revolucao/ ¹
5) Estado e Revolução, Lênin.
6) O Caminho que me levou ao Leninismo, HO, Minh
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